quinta-feira, dezembro 01, 2005

Com tanta profusão de blogues (e bloguistas) até me sentia tentado a…

(A leitura deste ´longuíssimo´ texto não é aconselhável a pessoas com problemas de visão, sobretudo para dentro delas ou para o interior de todos os outros que ‘perto’ delas passem. É que a longa exposição da vista a uma leitura prolongada do locutório seguinte pode causar sérias complicações na melindrosa e susceptível coerência de espírito de muitas pessoas.)

Numa das disciplinas (Geografia Humana de Portugal II) do curso Geografia da FLUP que tirei, a avaliação final resultava da média entre um trabalho anual e a avaliação por exame escrito. Estava-se em finais de Janeiro de 1996 e o novo ano lectivo tinha começado há 2 semanas apenas (devido à mudança para as actuais instalações da FLUP). Numa aula prática foi exposta o teor do trabalho a efectuar, que consistia na realização de um pressuposto PDM sobre um concelho, Ouviram bem! PDM, sim! PDM! Ainda hoje considero este um dos trabalhos mais absurdos que se fizeram/fazem em toda a História das universidades portuguesas. Mas se calhar estava em harmonia com mentalidade da regente da Disciplina, que pouco depois se iria reformar. Pelo facto de o trabalho ser obrigatório todos começamos desde logo a interiorizar os meses de escravatura que íamos passar em função dele.

Na aula prática a que aludi a docente (das práticas) informou-nos que na nossa turma tinha sido escolhido o distrito de Viseu e que nos podíamos sentir contentes pois a outras turmas tinha-lhes sido atribuído Setúbal ou Alentejo. Estão a ver a nossa cara de felicidade? Depois procedeu-se à repartição dos concelhos. Os maiores, com grupos de dois membros (Viseu com três), os menores concelhos individualmente. Preferi trabalhar comigo mesmo pois arranjar um colega que não parasitasse o nosso esforço nesse curso era mais difícil que o Soares ganhar as próximas eleições. Ou seja mesmo muito complicado!

Do que conhecia do distrito de Viseu apontei logo baterias para o concelho de Nelas. Primeiro por ser um dos de menor dimensão. Depois tinha lido algumas lendas e crónicas da História de Portugal relativas a este concelho, terra de grandes casas senhoriais, solares e palacetes, bem como a afamada ‘capital’ do vinho do Dão (tal como a Régua está para o vinho do ‘Porto’ [?] ), entre outros aspectos, e lá consegui que me fosse atribuído este concelho para desenvolver o meu trabalho.

Nos meses seguintes perdi várias centenas de horas a recolher material e a produzir o meu próprio para o suposto ‘PDM’, o que se revelava muito exaustivo em consonância com o que devia ser um PDM coerente e minimamente factível e exequível (os múltiplos aspectos demográficos, climatéricos, hidrográficos, de relevo, geológicos, económicos [agricultura, indústria, comércio e serviços, vitivinicultura, etc.], os transportes e respectivas redes, os aspectos da educação, cultura e ambiente, turismo, religiosos, etc, etc, etc.) Em alguns tópicos como as potencialidade dos recursos e sectores endógenos: vitivinicultura, termalismo, exploração de urânio, etc. desenvolvi estudos mais elaborados.

Tive necessidade me de deslocar ao concelho, no mês de Abril seguinte, por dois períodos (de três dias cada) para recolha de informação diversa e nomeadamente de fotografias e entrevistas. Este estudo in loco revelou-se assaz proveitoso para o progredir do trabalho, sobretudo porque nunca antes (que eu soubesse) pisara as insignes terras de Nelas. Posso dizer que apesar de nos meses anteriores ter aprendido muito sobre este território, e que me surpreendia a cada instante com novas e fascinantes particularidades (e tal informação se ter arreigado profundamente na minha mente) a visita a Nelas foi quase como uma incursão na gruta de Ali-Babá, pois é difícil encontrarmos um território tão reduzido (com apenas 125 Km2) bem como a sua população (cerca de 14 mil hab.) com uma tal diversidade de extraordinários e singulares aspectos para se ver, tocar e sentir bem dentro de nós. E porventura o ex-libris do concelho é a freguesia de Santar e a sua gente que é de uma amabilidade rara. Incontornável.

Nessa visita que efectuei a Nelas percorri todas as (nove) freguesias, de lés-a-lés. Desde logo me recordaram na vila de Nelas do factor de ponderação que devia usar no modo como dialogaria com as gentes de Canas, pois estes eram muito sensíveis à questão da (re)elevação desta freguesia juntamente com mais outros duas (pelo menos), Lapa do Lobo e Aguieira, a concelho. Estatuto este que eles aludiam que lhes tinha sido usurpado, injustamente, em 1852 por (decreto de) D. Maria II. Mal cheguei à vila de Canas deparei logo com cartazes a exigir a elevação a concelho. Deambulei durante um dia inteiro pelos vários espaços da Vila (inclusive o solar de Keill do Amaral) e contactei com inúmeros Canenses e só posso dizer que são pessoas de excelente trato e de forte fibra e personalidade (aliás o mesmo se estende aos restantes habitantes do concelho), como se depreende pela pujança com que mantêm a sua porfia pela (re)elevação a concelho.

Pessoalmente não sou a favor da elevação de Canas (com outras freguesias) a concelho por múltiplas razões e que também expus no trabalho então desenvolvido ( e que poderei reafirmar noutra ocasião que se convenha). No entanto compreendo algumas das razões subjacentes a um reforçar dessa aspiração por parte dos Canenses. O encerramento da grande empresa de Fornos Eléctricos em paralelo com as minas de Urgeiriça no início da década de 90, em Canas de Senhorim, conduziu à perca daquela região da primazia industrial no distrito de Viseu que usufruiu durante muitas décadas e como tal o desemprego subiu em flecha e muita gente foi forçada a emigrar. A riqueza e o bom nível e vida daquela região esvaiu-se quase de um dia para o outro. Ainda me estou a ver na estação ferroviária de Canas ao lado do sr. Gouveia, desempregado, conversando em frente do que restou daquela grande empresa de Fornos Eléctricos, que chegou a empregar um pouco mais mil pessoas no seu auge. De como era a vida antes e do que ela se tornou depois do encerramento da fábrica, ou com guarda da fábrica da Empresa Nacional de Urânio em Urgeiriça que me contou muitas histórias sobre a difícil vida dos mineiros em contraste com um dos administradores da Empresa Nacional de Urânio que vinha de tempos a tempos de Lisboa numa berlina, guiada pelo seu motorista, ver como estavam as coisa na Urgeiriça, e agora que só se aproveitava os restos do minério. Inquiri sobre os problemas das sequelas na saúde nos mineiros do urânio e das próprias minas, mas ele disse-me que não era nada de outro mundo. Até a estátua ao Mineiro que lá fora colocada era/é de dimensão demasiado reduzido para os anos de vida que literalmente os mineiros dedicaram (e consumiram) nas minas.

A zona mais produtiva do concelho passou então a ser Nelas após o encerramento das grandes estruturas de Canas. Os canenses consideram que a riqueza do concelho não tem vindo desde então a ser distribuído de forma equilibrado e justa, e em correlação com o seu passado histórico assim têm pugnado de forma acrescida pela velha aspiração a voltar a ser concelho.

Nas eleições autárquicas de 2001 concorreu apenas uma lista para a Junta de Canas. No decorrer do mandato devido a movimentações na estrutura concelhia, pelo facto de a Dr.ª Isaura Pedro, médica, que era vereadora do PS (partido do Poder em Nelas) ter-se mudado em 2004 para o PSD e apresentar outra sensibilidade (pelo menos uma menor oposição) com a causa de Canas, levou a que o poder dominante na Junta de Canas apoiasse (embora de modo algo discreto) a candidatura da Dr.ª Isaura Pedro à presidência da Câmara, nem que fosse pelo imensa aversão que nutriam com o Sr. José Correia (PS), um semi-dinossáurico Presidente de Câmara (de Nelas). O PS local ainda formou um movimento “Só Canas” que concorreu para a Junta de C. de Senhorim em Outubro de 2005 e apoiava o Sr. José Correia, mas saiu derrotado em todas as frentes. Luis Pinheiro foi assim re-eleito Presidente da Junta (ele que também encabeceia o Movimento de Restauração do Concelho de Canas de Senhorim [MRCCS]).

No entanto pelo que já se viu a nova Presidente
(Dr.ª Isaura Pedro) não possui uma opinião assim tão diferente do seu antecessor relativamente à causa de Canas e como tal a luta continua.

Ora boa parte dessa luta faz-se através de blogues de que Canas de Senhorim é extremamente fértil. Numa rápida observação pude contabilizar a existência de 11 blogues. É verdade que alguns deles foram criados apenas uns meses antes das eleições de Outubro de 2005, e porventura poderão acabar em breve (como já foi o caso de um deles)

A lista dos blogues de Canas é assim a seguinte:

A - Canas e Senhorins
O mais antigo (contabilizando cerca de 1 ano e 3 meses) e conta com 11 membros

B - A Má Língua Canense
Blogue recente, mantido por dois membros e com relevante dose de esforço e marcado sentido de humor.

C - Canas Sem Censura
Constituído por 6 membros, embora 2 deles também escrevam no Canas e Senhorins.

D- Voando sobre um Ninho de Cucus
Constituído por 9 membros, embora 4 deles também escrevam no Canas e Senhorins. Verifiquei que neste blogue praticamente só um dos membros, de nick Cingab, nele escreve.

E- Kunami Fresquinho
Constituído por 3 membros, embora todos eles também escrevam no Canas e Senhorins. Neste blogues praticante só um dos membros, de Kunami, nele escreve. De notar que este blogue já conta com apoio de candidato Vieira (a Presidente da República) para a elevação de Canas a Concelho. Vale a pena ler essa Vieirada!

F- Blogue Canas Jovem
Blogue relativamente recente, e como o nome alude mantido por 4 jovens (possíveis familiares/filhos dos outros bloguistas anteriores)

G - Por Quem Não Esqueci
Blogue relativamente recente, mantido por dois membros. Um deles também escreve no Canas sem Censura.

H - Município de Cannas de Senhorym

I- Concelho de Canas de Senhorim

J- O Mosca

Os três blogues anteriores são relativamente recentes e são de responsabilidade individual

L- Olá Canas de Senhorim
Blogue de responsabilidade individual e que entretanto terminou quase à nascença.

Ora se fizermos as contas, tendo em contas os casos em que a mesma pessoa escreve em vários blogues, teremos um número de bloguistas em Canas, no mínimo de 23 pessoas. Ora para um concelho que possui 3467 habitantes (censos de 2001 do INE), teremos em média que em cada 150 habitantes da freguesia, um é bloguista. Pelo facto de C. de Senhorim se localizar no interior do país esse facto ainda é mais notável.
E os blogues têm muitos posts por semana e quase todos escrevem nos blogues uns dos outros sem se importarem, predominando os blogues colectivos. Um bom exemplo.

A acrescentar a isso é curioso que a biblioteca de Canas de Senhorim – José Adelino (situado na sede dos Bombeiros de C. de Senhorim ), e que possui um espólio considerável, fruto do legado de um ilustre (José Adelino) da terra, também possui como website um blogue ( saliento aqui a recente biblioteca concelhia: Biblioteca Municipal António Lobo Antunes, da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, construída de raiz e inaugurada em 2002) O mesmo se passa com o website do Agrupamento (0604) de escuteiros local do CNE.
É a febre dos blogues nesta terra. E todos eles alojados no Blogspot.

Por esta razão, da profusão de blogues (e bloguista) num território tão circunscrito (penso que sem paralelo no país excepto nas grandes cidades), até me sentia tentado a defender a elevação de Canas do Senhorim a Concelho.

Engraçado foi encontrar nos links de um dos blogues anterior o Blogue do Cereja, que só possuí um post (datado de 1 de Janeiro de 2006 !!) e que possui 132 comentários. Grande média!

Ainda no concelho de Nelas existe um outro blogue relativo a outra freguesia : Blogue do Folhadal

p.s.: para quem está agora a pensar "Mas pra que raio era advertência no íncio do post?" apenas solto "curiosity killed the cat"

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