sexta-feira, novembro 25, 2005

Demasiado panfletismo sem concreto substrato

Uma notícia a que muitos bloguistas salivam de arremessar as suas POSTas de pescada. Claro que já quase não restará blogue luso onde não se faça menção/crítica ao caso (com óbvia excepção de blogues mais especializados em áreas de distinto âmbito). Um assunto que por suposta subjectivada é permitido proferir praticamente todo o género de opiniões/posições e claro as veleidades a cada um se dispuser, desde que as expresse de modo minimamente letrado. Nem será necessário recorrer a muita argumentação, até pelo que tenho constatado em algumas visitas. Um termo mais acidulado num abreviado texto já impõe alguma deferência e é sempre de bom tom.

Eu pecador me confesso e assim junto-me ao leque dos palradores que ousam meditar sobre as ‘instruções´ emanadas pela Igreja Católica (IC) e verborreio desde logo que, sendo este um assunto que permeia o mais intimo de cada pessoa, assume assim um grau de complexidade muito elevado de apreciação. Deste modo terei que restar necessariamente pela rama-rama da análise pois esta problemática dava pana-para-mangas ou então para sotainas. E no meio de tantas POSTadas por aí fora a minha será apenas mais uma gota no vasto oceano

O documento “Instruções sobre Critérios de Discernimento Vocacional” entre outros aspectos pretende (finalmente) clarificar a posição da IC sobre o acesso ao sacerdócio pelos homossexuais ou a quem os apoiar explicitamente e veda, ipsis verbis, literalmente esse acesso. Se na minha opinião/posição encontro mais pontos a favor que contra esta posição (não me crucifiquem já!) não posso é concordar na sua generalidade com a argumentação que a IC utiliza.

Desde logo esta inibição não se estende aos padres em exercício e a todos aqueles que numa fase na sua vida tiverem/assumiram comportamentos de esta índole. Claro que este sub-tópico é o real bico-de-obra desta questão e a IC (e será que mais alguém) conseguiria descartar-se de modo diplomático e justo de esta pesada batina (pois… descalçar este sapato prada, para os mais ortodoxos na Língua). Reconheço que fui algo mauzinho a começar por este tópico! Mea culpa.
Esta parcialidade relativa à inibição transmite aos leigos (na acepção do termo religioso) a sensação que a aplicação dos valores e princípios pela Igreja é conforme aos seus interesses específicos num dado momento e dado lugar. Claro que se a interdição fosse extensível a todos, incluindo aos padres já ordenados (e querendo nós ajuizar que os padres homossexuais [assumidos ou não] com a sua pressuposta elevada moral acatariam as directivas da Igreja e abandonariam o sacerdócio) haveria muitas, mas muitas mais paróquias desertas por aí fora. E isso já não convém, pois não?

Mais caricato é a declaração que todos aqueles que numa fase na sua vida tiverem/assumiram comportamentos de esta índole, deverão deixar passar três anos antes de pedir a ordenação. Três ? Porque não escolher números mais sagrados como quatro ou sete? E porventura será que a opção sexual é algo que se rompe assim tão facilmente?

Face aos inúmeros escândalos sexuais e de pedofilia que têm atingido nos últimas décadas a IC, compreende-se que esta queira reagir de forma assertiva a este estado de coisas, mas não será certamente esta a forma mais acertado. Digo eu.

Relativamente a outro sub-tópico (embora quase não seja aflorada nestas “Instruções” e que entronca assazmente com o tópico anterior), é a questão do interdição do celibato aos sacerdotes. Nesta ponto já a minha opinião/posição encontra mais pontos contra a imposição do celibato do que a favor pois se os padres devem num plano teórico ser distintos guardiães da moral então a Igreja não deve recear o seu casamento, e até essa interdição pode favorecer práticas homossexuais (como também é aludido no artigo do JN). Quando leccionei há uns anos atrás no Liceu de Vila Real, incumbiu-me uma turma de 12º ano onde se incluíam bastante jovens que tinham ingressado no seminário de Vila Real (seis deles cursam actualmente Teologia na Universidade Católica, pólo do Porto, e a maioria, senão todos, a seu tempo serão ordenados sacerdotes). Como passava muitas horas com eles por semana pude ter uma percepção mais ajustada destes problemas relativos à imposição de determinadas abstinências a vários níveis e ajudou-me a consolidar a minha posição de ser contra a imposição do celibato.

A propósito observei em alguns blogues esta questão colocada, sensivelmente desta forma : Se o celibato e/ou castidade é um voto imposto pela IC porquê então a proibição do acesso aos sacerdócio pelos homossexuais?
Bem apesar de assumir uma importância deveras marcante na sexualidade todos sabemos/entendemos que esta não circunscreve ao aspecto físico/carnal. Até porque este aspecto não é isolado, está em correlação directa e dinâmica com todos os outros múltiplos factores que são a essência da sexualidade.
Mas eu também entendo que esta questão foi colocada sob um prisma de alguma ironia.

e não disponho agora de mais minutos extra para continuar a escrever...

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Comments:
Ao fazer genealogia, encontrei alguns filhos de padres que foram perfilhados pelos mesmos, mas esses padres não foram impedidos de continuar a exercer o sacerdócio. Portanto, isto quer dizer que quem entra na Igreja não é forçosamente santo e pode "cair em tentação". Se no primeiro caso, a Igreja "fechou os olhos" em séculos anteriores e perdoou a falta, já no que diz respeito à homossexualidade ela é bem clara, sobretudo depois das últimas acusações de pedofilia no seio da igreja. Portanto, a mensagem que o Papa quis passar foi exactamente essa: lembrar que a homossexualidade não é aceite pela Igreja Católica. Mas talvez esse nem seja o problema maior da Igreja Católica. O problema maior são os padres sem vocação ou os que perderam a fé e continuam a ser padres. Aí é que está o maior perigo ...
 
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